segunda-feira, 1 de abril de 2013

As 30 famílias que mandam no Brasil




Conde Matarazzo, cuja família já mandou no Brasil.



 Tive oportunidade de conhecer e ficar amigo de um dos herdeiros de uma família muito importante, conhecida e poderosa no Brasil, influente há décadas, não importanto regimes e governos.

A hipótese de que algumas famílias mandam no Brasil sempre me causou curiosidade. O motivo é o seguinte: não é possível que um país deste tamanho seja governado pelos políticos, muito menos pelos eleitores que os elegem. Tampouco pelos juízes ou pelos meios de comunicação.

Um belo dia, tive a ideia de fazer a esse amigo uma pergunta direta: "Quantas famílias mandam no Brasil?"

Não perguntei sobre política. Minha hipótese era que tudo que os políticos fazem de relevante é cumprir ordens de um conjunto de grupos de interesses (que eu chamei de "famílias"). O que for irrelevante os próprios políticos resolvem. Uma leizinha aqui, uma maracutaia ali, nada disso é realmente relevante. Do ponto de vista dessas famílias, a única coisa que se espera dos políticos é manter a ilusão de que nos governam, ilusão esta que deve ser disseminada para o povo, para a mídia e para os próprios políticos.

Outra coisa que sempre me irrita e jamais me comove é o queixume da classe média (especialmente a paulistana), baseado na crença de que o Brasil é dividido, de um lado, por uma corja de políticos corruptos e funcionários públicos vagabundos e, de outro, por empresários empreendedores e trabalhadores honestos. Trata-se de uma estupidez, pois quem corrompe os políticos são justamente os empresários, para enorme benefício dos segundos, e ponto final.

Para as tais famílias, o que então é relevante? São coisas grandes do tipo: o regime político (pode ser qualquer um que mantenha a propriedade privada), a macroeconomia e o nome do gerente-geral, que também é conhecido como presidente da República.

Concluí que essas coisas importantes deveriam ser decididas em alguma espécie de clube. Não que fosse um clube compacto e coeso. Seria mais plausível que os membros do clube muitas vezes discordassem e competissem entre eles, mas que, em momentos decisivos, telefonassem uns aos outros e tomassem as grandes decisões. Também acontece de tomarem decisões desastrosas e depois serem "obrigados" a consertar a coisa de qualquer jeito.

Que tipo de coisas eles governam?


Exemplos de decisões relevantes na história recente do Brasil, usando só eventos políticos como exemplo:
- implantar a ditadura militar em 1964
- encerrar a ditadura em 1985
- impedir o PT de ganhar as eleições em 1989
- deixar o Lula ganhar em 2002 e governar por quanto tempo quiser.

A retirada da Constituição da restrição aos juros bancários, em 2003, foi um exemplo de como as coisas acontecem. Se tiver curiosidade, veja os detalhes aqui, neste blog.

Exemplos de problemas irrelevantes:
- a segurança pública
- o número de ministérios
- a carga tributária
- o desmatamento da Amazônia (e a emissão de CO2 e quase todas as questões ecológicas)
- o julgamento do mensalão
- a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara
- enfim, tudo o que a classe média paulistana acha que "atravanca" o progresso do país. 

Parece teoria conspiratória, daquelas de filme americano onde "as mãos invisíveis do Sistema resolvem tudo e não há o que o nosso herói possa fazer". Acontece que a teoria era conspiratória mas deixou de ser depois da tal entrevista e além disso, convenhamos, não temos heróis.

A resposta


Foi por isso que fiz a pergunta ao meu amigo com esses termos: "Quantas famílias mandam no Brasil?"
"Umas 30", ele disse, com a maior naturalidade.
"E a sua família está nessas 30?"
"Já esteve. Hoje tá meio na beirada..."
Senti um tom levemente maroto, embora sincero, na última resposta.

Obviamente fiquei perplexo, não pelo número, mas pela imediata concordância com minha tese: de fato, um grupo de famílias manda no Brasil.

Mas não fui jornalista na ocasião. Não tomei papel e lápis ou gravador e perguntei: "E quem são essas famílias? Me dê nomes". Fiquei tão feliz com a comprovação da hipótese que esqueci de perguntar os detalhes. Na verdade, não fui jornalista porque o cara é meu amigo e jornalistas não têm amigos. Quando um jornalista faz amizade com uma fonte (ou mantém a amizade depois de entrevistar um amigo), algo de errado aconteceu.

Ele poderia ter dito que que não há um grupo de famílias, que tudo se resolve dentro do complexo jogo político, ou dos lobbies, da relação de forças sociais e econômicas ou de qualquer outro jeito. Mas eu perguntei especificamente sobre famílias. E ele respondeu que sim, um grupo de famílias decide o que realmente importa. Esse grupo muda com o tempo, algumas famílias são alijadas, outras incluídas, nada é formalizado, mas que as há, sim, as há.

Então tratei de imaginar a composição do clube, fazendo uma conta menos pela participação dos seus negócios no PIB e mais pela sua importância estratégica para fazer esse país-continente funcionar sem deixar que as coisas relevantes escapem às suas mãos.

A composição do clube


Ficou assim:

- Empresários: 7. Cuidam dos produtos, dos serviços e dos empregos formais.
- Fazendeiros (donos de agronegócios): 5. Cuidam da comida.
- Banqueiros e afins: 5. Cuidam do dinheiro.
- Mídia e comunicações: 4. Cuidam de divulgar as decisões da turma e fazer tudo parecer um grande jogo.
- Comerciantes: 2. Cuidam da distribuição de produtos.
- Construtores: 3. Cuidam das estradas, usinas de energia elugares para se viver e morar.
- Políticos: 3. Cuidam de evitar que o povo atrapalhe as decisões da turma, controlando as votações no congresso, a polícia e demais funções públicas.
- Presidente da República: 1. Põe a cara pra bater. Se sair da linha por qualquer motivo, é demitido, pede demissão ou se mata. Se for amado pelos povo e mantiver as questões relevantes inalteradas, será mantido no poder por décadas e décadas.

Você deve estar perguntando: mas, e as multinacionais? E a CIA? E o demônio?


Ora, eles agem através dessa turma, é simples assim.

A outra pergunta seria sobre os militares, que governaram o país durante tantos e tão recentes anos.

Convenhamos, o exército brasileiro não participa como protagonista de uma única guerra desde a Guerra do Paraguai. Nos últimos 50 anos, só deu tiros contra os próprios brasileiros, mas isso a mando das 30 famílias, uma vez que, em 1963, o Tancredo Neves não foi convincente como primeiro ministro e a coisa parecia estar escapando ao controle. Além disso, ditaduras militares estavam ou em breve entrariam na moda na América do Sul. Tem mais: tente explicar, de forma plausível, por que os militares brasileiros entregaram o poder de maneira tão pacífica. Foi porque não gostavam mais do poder ou porque receberam uma ordem para voltar aos quartéis?

Concluindo, se você está indignado com alguma coisa, faça barulho, organize um movimento, lute como for necessário e batalhe até o fim pela vitória. Se o seu projeto não alterar ou prejudicar os interesses contidos nos Assuntos Relevantes das 30 famílias que mandam no Brasil, boa sorte.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quer saber quais são essas 30 familias? Veja os associados do Instituto Millenium. Estão todas lá.