segunda-feira, 8 de abril de 2013

Da série "Pior, impossível": O pior arquiteto do Brasil



"Estou pouco me lixando para o cliente", disse o arquiteto do pavoroso Memorial da América Latina


O nome do pior arquiteto do Brasil é Oscar Niemeyer. Pode ter sido um escultor célebre mas foi um péssimo arquiteto.

Numa entrevista à televisão, ouvi o Niemeyer falar o seguinte: "Estou pouco me lixando para o cliente. Eu desenho formas no espaço".

Para um escultor, é uma excelente definição do próprio trabalho. Para um arquiteto, é um desastre.

A diferença entre escultura e arquitetura é que a primeira não precisa prestar contas a ninguém e a segunda é escrava da sua função. É equivalente à diferença entre literatura e jornalismo, física e engenharia, pintura e design, biologia e medicina, matemática e contabilidade, filosofia e... bem, filosofia não tem nenhum equivalente prático que me ocorra.

É óbvio que as atividades técnicas têm relação íntima com seus equivalentes "puros", assim como há todas as evidências de que a arte e a ciência não são tão puras assim, uma vez que estão inseridas em contextos históricos e blá e blá e blá. Aqui estou falando das técnicas, ou seja, as técnicas devem muito à ciência e à arte e é muito bom que se inspirem nelas. Quando um jornalista consegue ser poético informando, é uma bênção. Quando um arquiteto projeta uma escultura habitável, também.

Da mesma forma, quando um pesquisador médico consegue descobrir a cura de uma doença graças à teoria da evolução também é ótimo. Tanto é assim que as descobertas atuais sobre o comportamento dos vírus "nocivos" se deve a uma investigação que estava pouco se lixando para as doenças humanas: a teoria da seleção natural. Darwin queria saber como a vida funciona e ficou tão surpreso com a consequência da própria descoberta (Deus não existe) que, por medo da mulher devota e chata, escondeu seus achados do mundo até um pouco antes de morrer. Dizem que ele só resolveu publicá-los por vaidade, uma vez que um outro cara estava quase chegando lá e ia ficar com a fama.

A prova de que Niemeyer era um arquiteto medíocre está construída pelo mundo, em concreto armado. Pode-se admirar suas obras nas fotos, mas experimente usá-las. Uma lenda de Brasília conta que o general Garrastazu Médici dizia o seguinte sobre o palácio da Alvorada: "Essa casa é uma merda. Se alguém frita um bife na cozinha, sinto o cheiro no quarto de dormir".

A anedota me foi contada como uma prova de que o general em questão era culturalmente limitado e insensível como um general. Mas sempre entendi que o milico tinha razão. Quando eu estava no colegial, fui à casa de um amigo filho de um arquiteto famoso, mais ou menos herdeiro da filosofia do Niemeyer. A casa era formal e conceitualmente ousada (na época estava na moda o concreto aparente e ambientes abertos e integrados), mas impraticável para uma família típica da classe média, como era, no final das contas, a família em questão, ou seja, os tais clientes eram a própria família do arquiteto.

Por exemplo: os jovens da família tinham de fumar maconha no telhado, pois os cômodos da casa eram separados por meias-paredes. Meu amigo também não tinha onde ouvir seus discos de rock, pois o pai, tão moderno na arquitetura, detestava a música dos filhos. A casa era tão inviável para se morar que a própria família implodiu. Os pais se separaram e a mãe se mudou correndo, com os filhos, para uma casa com portas, paredes e janelas. A mãe entendia que um adolescente só se sente livre quando está trancafiado em seu quarto.




Um dos fundadores dessa escola do concreto aparente e meias-paredes foi um arquiteto chamado Vilanova Artigas, um dos criadores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU) e autor do belo projeto da própria faculdade. Belo mas, como escola, uma merda. No andar superior, me lembro ser impossível dar ou assistir aulas. Primeiro porque as malditas meias-paredes faziam vazar o som de uma sala para outra. Segundo, porque o belo teto de abóbodas translúcidas deixavam entrar luz (pois não há janelas na FAU, vejam a foto) e também amplificavam tanto o som da água quando chovia quanto o calor quando fazia sol. Uma construção sem a menor preocupação térmica, acústica e, portanto, pedagógica.

Outros exemplos de arquitetura sem noção são as obras públicas do Niemeyer. O Memorial da América Latina, de São Paulo é o pior espaço público da cidade. Um enorme cimentado sem árvores, sombra, bancos ou qualquer conforto humano. O cara tinha essa mania: tirar qualquer coisa que pudesse "atrapalhar" a visão de suas maravilhosas e sinuosas "formas no espaço", baseadas nas "curvas da mulher e da natureza cariocas". Foi assim, "pouco se lixando para o cliente", que projetou uma coisa desagradável e horrenda (nesse caso, também do ponto de vista estético, pois aquela assustadora e gigantesca escultura de uma mão sangrando com forma de América Latina é de um realismo socialista tão brutal que dá medo).

Aí que está o ponto: o grande cliente do Niemeyer sempre fomos nós, pois a maior parte de suas obras são públicas. Burgueses com grana pra pagar seu cachê raramente o contratavam. No fundo, o stalinista Niemeyer estava pouco se lixando para nós, e no entanto foi enterrado como um herói do povo.

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