Recentemente, em São Paulo, uma pequena polêmica está excitando artistas, curadores, pedagogos, juristas e gente de outras especialidades em busca de momentânea notoriedade jornalística: o nu artístico é pornografia ou é arte? É que um vetusto museu, o MASP, proibiu para menores de 18 anos uma exposição sobre erotismo porque uma performance no MAC causou "furor" porque um artista estava nu e uma menina que conhecia ele mexeu no seu corpo e outras bobaginhas.
O verbo excitar usei por razões sacanas e óbvias.
A primeira reação dos artistas me pareceu abjeta: "Arte é arte; pornografia é pornografia".
Está aqui.
Ué...
...quem disse?
Desde que, em 1913, Duchamp assinou um urinol (sim, um urinol, e não uma pia de lavar as mãos) e acabou com a fronteira entre arte e vida, essa fronteira foi rompida.
Acontece que essa fronteira foi rompida de ambos os lados, senhoras e senhores. Um urinol virou Mona Lisa, Mona Lisa virou um urinol. Entre ambos, um pau.
Aconteceu essa maravilha no século 20: apenas respirar virou arte; rabiscar num papel virou vida. Respirar rabiscando ou rabiscar respirando é a mesma coisa.
Estou achando divertido e quase me comove que a modorrenta vidinha dos artistas brasileiros no seu vai-e-vem de exposição em exposição esteja sendo temperada por manifs.
É óbvio que eu sou contra qualquer tipo de censura. Mas ser a favor da liberdade de expressão é ser a favor da liberdade de expressão dos seus mais nojentos inimigos.
Quero dizer que a palavra de ordem "Arte não é pornografia" é reacionária: quer "proteger" a arte como não-pornográfica.
Por quê?
Se eu fosse jovem, defenderia a pornografia, não a arte.
Um comentário:
"Imoral é tudo aquilo que excita os moralistas" do grande Millor Fernandes
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