segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Todo livro é de autoajuda




Vamos parar com essa história de classificar certos livros como sendo de "autoajuda" e outros não. Todo livro é de autoajuda pelo simples fato de que não vem com o autor junto para dialogar com você. É você, o livro e ninguém mais por perto.

Imagine um livro que estabeleça uma relação entre a filosofia de Kant e as composições de Anton Webern, que nem contemporâneos foram. O texto, quase ininteligível, não chegaria a conclusão alguma. Mostraria apenas intrincadas reflexões e traria no fim uma extensa bibliografia de livros que você jamais encontrará pois estão esgotados, dois terços deles em alemão.

Agora imagine um livro que traga 10 truques infalíveis para ser feliz, prontinhos para usar. Basta seguir os passos como numa receita de bolo. (Aliás, ninguém reclama da existência de livros de receitas culinárias, a não ser que as receitas sejam incompletas ou erradas ou metidas a filosóficas.)

O primeiro livro diz ao leitor: vire-se, tire suas próprias conclusões e não conte comigo. Em outras palavras... ajude-se! Trata-se visivelmente de um livro de autoajuda intelectual. Se você não entendeu nada, problema seu.

O segundo livro diz ao leitor: eu ajudo você a ser medíocre em sua mediocridade e garanto que após a leitura você será mais medíocre ainda. Siga esses conselhos e... faça! Trata-se também de um livro de autoajuda, só que honesto. Se você não ficou feliz, problema seu.

Este post não é uma "defesa" dos livros considerados de autoajuda. Escrevi apenas porque chavões me incomodam principalmente quando vêm de gente que usa chavões supostamente para combater chavões...

A diferença que existe, portanto, é entre livros rasos, escritos para gente simplória e rasa, e livros complexos, para gente mais instruída e cognitivamente mais sofisticada. Os primeiros vendem mais porque a esmagadora maioria dos habitantes é simplória e rasa.


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