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O sadismo digital nasceu quando o primeiro programador levou o primeiro fora da primeira namorada. Então vocês me perguntam: como assim, um programador tem namorada?
Não. Mas, nesta fábula, o programador se chamava William Gates, um programador cuja particularidade foi nunca ter criado uma única linha de código, e sua vingança foi se tornar o cara mais rico do mundo, meta essa conquistada com absoluto êxito.
Vamos direto ao assunto.
1. Mudarás tudo, sempre. Principalmente os menus e a interface.
2. A cada 18 meses, tornarás tudo sucata.
3. Interromperás downloads em 99 %.
4. Em vez de interromper os downloads, deixarás o reloginho eternamente em 99%.
5. Farás o usuário se perder, sempre, com o requinte de fazê-lo pensar que é a) burro; b) idiota; c) velho.
6. Esconderás suas verdadeiras intenções em "termos de privacidade".
7. Inventarás sites inúteis, que tomarão seu tempo e depois sairão de moda.
8. Viciarás quem quer que seja nos sites inúteis do Mandamento 7.
9. Apagarás tudo 10 minutos antes de qualquer backup.
10. Terás eterna inveja de um arado, um martelo ou uma pá, dispositivos que nunca tiveram de ser "reinicializados" em sua longa existência.
quinta-feira, 25 de março de 2010
terça-feira, 16 de março de 2010
Pelas homenagens póstumas em vida
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Acho ruim essa história de as homenagens póstumas serem póstumas. Explico: como não acredito em vida após a morte (nem na fada dos dentes), é uma tristeza o morto não ter tido o direito, ou o prazer, ou o desprazer, de editar e comentar as próprias homenagens que receberia.
Hoje, numa conversa com uma amiga, tive a ideia de propagar essa ideia: as homenagens póstumas deveriam ser feitas com o morto ainda vivo. Assim ele teria o direito constitucional de rever certas lembranças (passado de morto é a terra das oportunidades), teria a chance de denunciar hipocrisias, a gentileza de agradecer as homenagens sinceras e, sobretudo, teria o prazer de organizar o próprio funeral, evitando a presença de desafetos.
Por exemplo: o ex-campeão de Fórmula 1 Alain Prost odiava Ayrton Senna, dentro e fora das pistas, ódio este que era fartamente retribuído. A morte do Senna em 94, que não me comoveu porque sempre o achei antipático, comoveu subitamente o francês, que correu a agarrar uma alça do caixão. Se o Senna estivesse vivo e tivesse um minúsculo bom humor, teria levantado do caixão e enxotado o desafeto.
Vinte anos atrás, eu mesmo bolei minha lápide: "Ele nunca foi à Disney e nunca foi a um musical na Broadway". Como demorei a morrer, acabaram me empurrando musical da Broadway adentro, estragando minha lápide. Resolvi trocar por "Perco a vida mas não perco a piada".
Gostaria muito, se os que me conhecem lerem este texto, que aproveitassem o ensejo e deixassem, aí embaixo nos comentários, minhas homenagens póstumas.
Afinal estou vivo, mas nunca se sabe por quanto tempo.
Um dia eu faço esse site.
Acho ruim essa história de as homenagens póstumas serem póstumas. Explico: como não acredito em vida após a morte (nem na fada dos dentes), é uma tristeza o morto não ter tido o direito, ou o prazer, ou o desprazer, de editar e comentar as próprias homenagens que receberia.
Hoje, numa conversa com uma amiga, tive a ideia de propagar essa ideia: as homenagens póstumas deveriam ser feitas com o morto ainda vivo. Assim ele teria o direito constitucional de rever certas lembranças (passado de morto é a terra das oportunidades), teria a chance de denunciar hipocrisias, a gentileza de agradecer as homenagens sinceras e, sobretudo, teria o prazer de organizar o próprio funeral, evitando a presença de desafetos.
Por exemplo: o ex-campeão de Fórmula 1 Alain Prost odiava Ayrton Senna, dentro e fora das pistas, ódio este que era fartamente retribuído. A morte do Senna em 94, que não me comoveu porque sempre o achei antipático, comoveu subitamente o francês, que correu a agarrar uma alça do caixão. Se o Senna estivesse vivo e tivesse um minúsculo bom humor, teria levantado do caixão e enxotado o desafeto.
Vinte anos atrás, eu mesmo bolei minha lápide: "Ele nunca foi à Disney e nunca foi a um musical na Broadway". Como demorei a morrer, acabaram me empurrando musical da Broadway adentro, estragando minha lápide. Resolvi trocar por "Perco a vida mas não perco a piada".
Gostaria muito, se os que me conhecem lerem este texto, que aproveitassem o ensejo e deixassem, aí embaixo nos comentários, minhas homenagens póstumas.
Afinal estou vivo, mas nunca se sabe por quanto tempo.
Um dia eu faço esse site.
segunda-feira, 15 de março de 2010
Quem vai cuidar do site do Glauco?
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É estranho inaugurar um blog chamado "Isso não me comove" comentando um episódio que comoveu a tantos, inclusive a mim: o assassinato do Glauco. Parece que o assassino era do daime, a única igreja que, pelo estranho e esperto fato de ser igreja, conseguiu manter legal o consumo de um alucinógeno (o que vai provocar uma reação furiosa dos promotores caretas antimaconha). O cara era do daime, mas poderia ser do PSDB, da Igreja Universal, do Rotary, do Clube Harmonia, do MST, da Arquidiocese, das Farc... e aqui encontro o nexo: não me comove de onde veio o cara. Assassinos estão em toda parte, em qualquer espécie. Ocorrem nas melhores famílias, inclusive na sua.
Tive dois rápidos encontros com o Glauco, nos 1990. Eu era o responsável editorial da Símbolo, uma editora que publicava uma revista para meninas adolescentes, a Atrevida. Queríamos que ele criasse uma personagem feminina, que ele acabou criando, a Atrevidinha. A escolha do Glauco era óbvia: da "trindade" que ele formava com o Laerte e o Angeli, o Glauco era o único capaz de entender uma adolescente dos anos 90, por motivos que os outros dois reconhecem nesses dias de homenagens póstumas e, espero, continuem reconhecendo.
O primeiro encontro foi na casa dele, uma casa grande e térrea naquela avenida que dá na Cidade Universitária. Ele estava sentado numa roda de pessoas que discutiam, suponho, a criação da igreja do daime. Fico imaginando, com um arrepio, se o tal sujeito já não estava lá. Sentei na roda, expliquei mais ou menos o que queríamos. Ele não prestou muita atenção (dizem que ele nunca prestava atenção em nada e fazia uma charge sensacional do mesmo jeito), mas a conversa acabou chegando no daime.
Eu perguntei por que ele entrou naquela coisa. Me contou, na maior simplicidade, que soube que tinha uma droga num ritual que dava um barato incrível. Ele foi a uma reunião e perguntou: "Dá pra eu pegar só um pouquinho e levar? É que tem uma festa." Foi rechaçado. Mas depois, por tudo o que se sabe, gamou.
O segundo encontro foi na redação, para fechar o contrato e tratar dos detalhes. Na editora trabalhava uma funcionária, a Cecé, que era muito parecida -- física e psicologicamente -- com a dona Marta. Tão parecida que cuidava dos boys e, depois que eu apresentei as tiras do Glauco, ela passou a colecionar e pregar os quadrinhos na parede. A Cecé tinha uma predileção especial por uma tira em que a dona Marta mantinha os boys num freezer para usar quando quisesse. Ameaçava os meninos apontando pros recortes.
Com o Glauco em pessoa na redação, tive a ideia de apresentá-los. Disse : "Você não vai acreditar, mas a dona Marta existe e trabalha aqui". Chamei a Cecé pelo telefone, com uma voz grave (como se houvesse um problema), ela chegou de péssimo humor, perguntando por que a tiraram do seu posto. Eu disse que aquele cara era o Glauco, o criador da dona Marta. Ela teve um ataque histérico, como convém a qualquer dona Marta. O Glauco: "É ela." Então autografou um gibi para a Cecé com um desenho exclusivo da dona Marta. Fez o mesmo que fez para o Forastieri em Piracicaba, 15 anos antes, vejam aqui.
Não sei onde anda a Cecé ou o Glauco.
Mas acabo de entrar no site dele, que continua lá, embora eu não saiba onde fica o cemitério dos sites.
É estranho inaugurar um blog chamado "Isso não me comove" comentando um episódio que comoveu a tantos, inclusive a mim: o assassinato do Glauco. Parece que o assassino era do daime, a única igreja que, pelo estranho e esperto fato de ser igreja, conseguiu manter legal o consumo de um alucinógeno (o que vai provocar uma reação furiosa dos promotores caretas antimaconha). O cara era do daime, mas poderia ser do PSDB, da Igreja Universal, do Rotary, do Clube Harmonia, do MST, da Arquidiocese, das Farc... e aqui encontro o nexo: não me comove de onde veio o cara. Assassinos estão em toda parte, em qualquer espécie. Ocorrem nas melhores famílias, inclusive na sua.
Tive dois rápidos encontros com o Glauco, nos 1990. Eu era o responsável editorial da Símbolo, uma editora que publicava uma revista para meninas adolescentes, a Atrevida. Queríamos que ele criasse uma personagem feminina, que ele acabou criando, a Atrevidinha. A escolha do Glauco era óbvia: da "trindade" que ele formava com o Laerte e o Angeli, o Glauco era o único capaz de entender uma adolescente dos anos 90, por motivos que os outros dois reconhecem nesses dias de homenagens póstumas e, espero, continuem reconhecendo.
O primeiro encontro foi na casa dele, uma casa grande e térrea naquela avenida que dá na Cidade Universitária. Ele estava sentado numa roda de pessoas que discutiam, suponho, a criação da igreja do daime. Fico imaginando, com um arrepio, se o tal sujeito já não estava lá. Sentei na roda, expliquei mais ou menos o que queríamos. Ele não prestou muita atenção (dizem que ele nunca prestava atenção em nada e fazia uma charge sensacional do mesmo jeito), mas a conversa acabou chegando no daime.
Eu perguntei por que ele entrou naquela coisa. Me contou, na maior simplicidade, que soube que tinha uma droga num ritual que dava um barato incrível. Ele foi a uma reunião e perguntou: "Dá pra eu pegar só um pouquinho e levar? É que tem uma festa." Foi rechaçado. Mas depois, por tudo o que se sabe, gamou.
O segundo encontro foi na redação, para fechar o contrato e tratar dos detalhes. Na editora trabalhava uma funcionária, a Cecé, que era muito parecida -- física e psicologicamente -- com a dona Marta. Tão parecida que cuidava dos boys e, depois que eu apresentei as tiras do Glauco, ela passou a colecionar e pregar os quadrinhos na parede. A Cecé tinha uma predileção especial por uma tira em que a dona Marta mantinha os boys num freezer para usar quando quisesse. Ameaçava os meninos apontando pros recortes.
Com o Glauco em pessoa na redação, tive a ideia de apresentá-los. Disse : "Você não vai acreditar, mas a dona Marta existe e trabalha aqui". Chamei a Cecé pelo telefone, com uma voz grave (como se houvesse um problema), ela chegou de péssimo humor, perguntando por que a tiraram do seu posto. Eu disse que aquele cara era o Glauco, o criador da dona Marta. Ela teve um ataque histérico, como convém a qualquer dona Marta. O Glauco: "É ela." Então autografou um gibi para a Cecé com um desenho exclusivo da dona Marta. Fez o mesmo que fez para o Forastieri em Piracicaba, 15 anos antes, vejam aqui.
Não sei onde anda a Cecé ou o Glauco.
Mas acabo de entrar no site dele, que continua lá, embora eu não saiba onde fica o cemitério dos sites.
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