Tem dois tipos de figurino de que procuro manter distância: batina e farda.
Quando chegamos em casa com as bandeirinhas, um choque. Minha mãe, chorando e desesperada ao telefone, procurando saber onde estava o meu pai.
Não me lembro do dia em que tomei consciência de que vivia sob uma ditadura pavorosa. Acho que foi aos 11 anos, em 1968, um ano simbólico e mágico mas que objetivamente não venceu nada. De Gaulle continuou no poder na França, a guerra no Vietnã prosseguiu e aqui no sul do planeta ditaduras eram plantadas como batatas. No nosso caso, fardados psicopatas sanguináreos e corruptos sustentados por empresários e mantidos pela lógica da guerra fria começaram o terror.
A maioria dos serial killers fardados morreu em paz, sem nenhum constrangimento. Viraram nomes de ruas, avenidas e viadutos.. Alguns torturadores continuam vivos e soltos. Este é o único país da América do Sul que nem tentou prender seus criminosos. Essa é uma vergonha colossal, muito maior do que a derrota na copa de 50.
A nossa independência foi promovida por um português. A nossa república foi proclamada por um milico. O fim da ditadura "perdoou" os ditadores. Que merda é essa?
A Comissão da Verdade é uma ótima ideia, pois mantém luz, mas é pouco.
Enquanto houver um único torturador livre não diminuo minha vergonha de ter nascido aqui
Enquanto houver um único torturador livre não diminuo minha vergonha de ter nascido aqui